sexta-feira, 20 de maio de 2016

"TÔ" PRESA.

É um assunto pesado, triste, chato
Não é fácil falar sobre.
Falar de quem tá trancado, guardado, encarcerado.
E quando o trancafiado é mulher, tratar desse assunto é mais complicado

Abordagem, algema, carceragem
"- Cadê meu batom, minha maquiagem?"
"- Aqui não, gatinha. Tú não tá na balada. Isso não é pista.
 Aqui não se ganha nada, se conquista."

Parece bate papo de amiga, mas não é.
É a dura realidade da mulher.
Da mulher negra, presidiária
Que numa luta diária tenta sobreviver

Vaidade, unha feita, cabelo bonito.
Isso não é boate.
A realidade, atrás dessa grade, é dolorida, sofrida.

Tá grávida? Hum, que pena.
Isso não vai te ajudar na redução da pena.
Pensa que por isso não vai apanhar? Hahahahahahaha.

Aqui dentro, você é um homem.
Pouco importa se engravida ou menstrua.
Isso você faz na rua.
Aqui tem porrada, covardia e tortura.

Atrás da grade
A gente beira a loucura
Insanidade que invade
A mente surta

A paciência é curta
Não vemos cura
A justiça pouco faz
É difícil saber qual de nós sofre mais

A verdade, que arde
É que aqui as pretas são a maioria
Mas isso tanto faz
É difícil saber qual de nós sofre mais



                                                            * Escrevi este texto baseado em algumas histórias reais retratadas no livro acima.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A ABOLIÇÃO NOS SALVOU?



Reclamamos, queremos, buscamos.
Somos apontados, ameaçados,
injustiçados, marginalizados.
Mas pra você é tudo invenção:
Não sofremos. Exageramos.
Vemos coisa onde não tem,
criamos uma opressão.
Opressão que foi criada por você.
Você que não me vê lá no alto do morro,
pedindo socorro, querendo atenção.
Você que não entende que sou negro, pobre,
porém, não sou bandido, não.
Moro na comunidade. E daí?
Isso é motivo pro seu julgamento?
Não te entendo. Juro, eu tento.
Me chama de mimizento, de reclamão.
Quer dar opinião na minha luta.
Só que se esquece que é neto do engenho que me acorrentou, me escravizou.
A abolição nos salvou?
Não. Só soltaram nossas correntes.
Mas não vamos desistir.
Permaneceremos na labuta.
Na luta para que você entenda,
ainda que te ofenda,
que o tronco não é mais o nosso lugar.
Nosso lugar é nas empresas, universidades, em qualquer posição na sociedade.
Nosso lugar é onde nós queremos estar.
E nada - nem ninguém - vai nos parar.